Pular para o conteúdo principal

Não há mais ninguém para cantar a história

Quando se fala de música, é difícil não lembrar dos músicos ambulantes. Homens, mulheres, famílias que ganham a vida distribuindo arte pelas ruas. São figuras certas em lugares como Paraty, Penedo, Visconde de Mauá, Conservatória, que podem ser hippies ou não. Em Volta Redonda já não se encontra mais esses artistas. O que se vê hoje são ruas vazias, sem a alegria das notas musicais que soaram aos ouvidos dos que passavam por ali, entre um passo e outro da correria do dia a dia.

Estes artistas ficavam pela Vila Santa Cecília, cantando e esbanjando talento. Quando criança, me lembro de alguns que aos sábados se concentravam em busca de algum reconhecimento. Até pouco tempo um ainda permanecia, era um índio que cantava e encantava com sua flauta, e no fim do dia recebia alguns trocados.

É inevitável não se questionar: onde eles foram parar? Talvez nossa cidade tenha mesmo perdido a cor e esses artistas se sentiram desvalorizados, ou talvez, existam poucos destes por aí, e VR não tem espaço ou não faz parte do ‘cardápio’ deles. Mas é impossível não dizer que fazem falta. Eles coloriam a nossa cidade cinza.

Conversando com uma autêntica andarilha e hippie por paixão, Fabiana Amado, a Bia, conta que por aqui não se encontram mais músicos itinerantes, e indica cidades como as que citei acima. “Aqui na região é muito difícil de encontrar. Talvez em Penedo e Maromba. Mas em tempo frio como este, duvido que estejam de cara mostrando trabalho. Isso só se der sorte, porque tem muita gente ainda em Ibitipoca. Em Paraty é fato, tem uns caras que fazem poesias, mas não têm pontos certos. Hoje estão aqui e amanha só Deus sabe”! Ela tem razão, VR tem pouco dessa cultura. Os que permanecem pode ser pela proximidade a essas cidades turísticas e por Volta Redonda ser pequena.

Viver de música hoje no interior é mais que por amor. Quase nada se ganha por isso, só bem estar. Vânia Lee, cantora das antigas, sabe bem o que isso significa. Assume ter deixado um pouco de lado sua carreira musical para conseguir bancar aluguel, filho, faculdade e ter uma renda melhor. Hoje é professora de línguas, jornalista e dona-de-casa. “É difícil conciliar arte e profissão. Muitos vão em frente e conseguem. Eu preferi optar por voltar a estudar e seguir uma vida acadêmica.”

Outro músico que também defende a ideia de ter artistas de rua é Gilson Panda, baterista há mais de 40 anos e integrante da banda que toca Jazz, Bossa Nova, ‘Sambacana’, há 12 anos. Defende que este sumiço é devido a nossa cultura. “Volta Redonda é uma cidade de muitos talentos, mas nem todas as pessoas valorizam isso. No caso de músicos de rua, as pessoas passam, algumas param e aplaudem e outras ignoram. Além do mais é preciso ser músico e artista. Este conjunto é que traz sucesso”, afirma Panda, acrescentando que sua própria banda já teve a ideia de tocar nas praças, com objetivo de divulgar o trabalho e levar arte para população.

Assim como afirmam Vânia e Panda, talentos não faltam na cidade do Aço. Não se encontram mais músicos itinerantes, mas acham-se outros artistas de rua, como os pintores, artesãos, vendedores e até malabaristas de sonhos. Estes que com seus brinquedos artesanais atuam em algum canto da praça, e tem o poder de despertar em nós a criança que carregamos. Por alguns momentos nos sentimos felizes e renovados. Com os sonhos acordados. Por mais estranho que seja, a tendência será nos acostumarmos com a solidão da música, e termos em sonhos esses artistas que um dia cantaram histórias.

Thayra Azevedo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Propagandas conscientes

Passeando pelos blogs da ‘vida’ me deparei com um post muito bom. É sobre algumas propagandas criadas pela WWF com objetivo de conscientizar as pessoas da importância de se preservar o planeta. São fantásticas as ideias olhe abaixo: A medida que o papel acaba, o verde da América Latina desarece. Essa é mais complexa de ser realizada. O outdoor da WWF alerta para o risco que o aquecimento global representa ao elevar o nível dos oceanos através da sombra projetada no cartaz. Esse anúncio utiliza o movimento da sombra no cartaz para demonstrar como o aquecimento global levará ao aumento do nível dos oceanos. Esse foi produzido pela divisão indiana da ONG. Mostra como os bichos têm sofrido com a indústria da moda Dá para refletir, ou não?

Para todo pé descalço há um chinelo velho

A expressão que dá título a este texto é muito usada quando falamos de relacionamentos amorosos. Pensando bem, ela é mesmo uma realidade. Todos nós temos uma “cara metade”, a “tampa da panela”, a “metade da laranja”, “a mussarela da pizza” e tantas expressões, que dá para ficar listando e inventando o dia inteiro. A razão de escrever sobre isto não é, de fato, relacionamentos amorosos, mas a de mostrar como é engraçado os diferentes gostos das pessoas. Calma, não é mesmo de namoros e afins que irei falar. O assunto aqui é defeitos e qualidades, como vou dizer.... Sabe a expressão “uns gostam dos olhos e outros da remela”? é mais para este caminho do que da “alma gêmea”. Mas porque o assunto é: “Para todo pé descalço há um chinelo velho”? Ué, porque eu vou falar de pé, também! Rs Em especial, dos meus pés. Rsrs Sabe aquele “defeitinho” que você tem, ou acha que tem, mas um outro ser é capaz de achar lindo? Não estou falando apenas de namorados, pais, irmãos, parentes e afins, me ...

Flor de Lis, o filme

Este post aqui é de alegrias, sei lá, algo bom. No dia 4 de Fevereiro aconteceu o lançamento de um dos filmes mais esperados do ano para alguns cristãos, o "Flor de Lis, o Filme". Legal isso, então o Flor daqui vai falar do flor de lá. Este documentário é uma conquista, porque reúne artistas ‘renomeadíssimos’ contando uma história com a temática evangélica, retratando um verdadeiro acontecimento, com uma ótima trilha sonora, elenco de primeira, é um divisor de águas na história do drama no cinema brasileiro. Muito bacana. Tem trilhas sonoras com Bruna Karla, cantora gospel e Ministério Apascentar de Nova Iguaçu também evangélico. Não vi ainda, mas quero ver. O filme produzido por Marco Antonio Ferraz, conta a história verídica da vida de Flordelis, uma missionária que morava no Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro. Mulher de fibra e coragem, que lutou bravamente para abrigar e cuidar de 37 crianças abandonadas e as criou junto de seus quatro filhos biológicos...