Pular para o conteúdo principal

O triste fim dos diabos da Tasmânia

Jorge Luiz Calife

O diabo da Tasmânia, um marsupial que inspirou o personagem Taz, nos desenhos animados, pode estar extinto em 50 anos. Os animais, encontrados apenas na ilha da Tasmânia, no sul da Austrália, desenvolveram uma forma de câncer transmissível que está dizimando a espécie. Restam tão poucos que os biólogos australianos temem que a espécie desapareça antes que uma cura, ou uma vacina, possa ser desenvolvida pela ciência. Desde que a doença foi descoberta, em 1996, 70% por cento de toda a população de diabos da Tasmânia já morreu. Um artigo publicado na famosa revista "Science", semana passada, resumiu as primeiras descobertas sobre a nova e misteriosa epidemia.

A equipe de cientistas extraiu os genes das células cancerosas e descobriu que a doença surgiu de uma mutação ocorrida nas células que normalmente protegem os nervos desses animais. Chamadas de células de Schwann, elas produzem um isolamento, chamado mielina, para proteger os nervos. Depois que o primeiro animal ficou doente, ele transmitiu a doença para outros, devido ao hábito que os diabos da Tasmânia têm de morder a face um do outro. No animal infectado, o tumor cresce, tomando conta da face e da garganta até que o bicho não consegue mais se alimentar e morre de inanição.

Existem poucas formas de câncer semelhantes a esta na natureza. Até agora os cientistas só conheciam um tipo de tumor em cães, que é transmitido sexualmente.

A forma como a nova doença se propaga também é diferente do que acontece nos humanos, onde o papilomavírus pode ser transmitido de uma pessoa para outra provocando tumores cervicais. No caso do diabo da Tasmânia, quando um animal morde o outro células cancerosas passam na saliva e criam uma réplica do tumor no animal infectado.

A equipe do cientista Elizabeth Murchison, da Universidade Nacional da Austrália, está correndo contra o tempo para mapear as mutações que acontecem nas células e criar uma vacina. Antes que os últimos animais morram com a doença. A pesquisa dos genes mostra que a doença é nova e se desenvolveu nos últimos 20 anos. Já foi criado um teste para diagnosticar o mal baseado em uma proteína, a periaxina, encontrada nos tumores faciais. É a primeira vez na história que uma equipe de cientistas tenta evitar a extinção de uma espécie de animais lutando contra uma nova doença. A equipe da universidade australiana também já criou um catálogo de informação genética sobre esses animais, que será útil para sua preservação.

O maior marsupial carnívoro do mundo

Atualmente o diabo da Tasmânia é o maior marsupial carnívoro do mundo. Já existiu uma criatura semelhante, maior do que ele, o tilacino, mas tornou-se extinta em 1936. Há três mil anos esses animais povoavam todo o continente australiano, mas a chegada dos colonos humanos acabou com todos eles na Austrália e restou apenas a ilha da Tasmânia como seu último refúgio. A primeira descrição do animal em um trabalho científico foi feita em 1807 pelo biólogo George Harris. Os diabos são animais noturnos que caçam outros animais menores do que eles, como coelhos e pequeno cangurus. Os uivos que eles emitem dentro dos bosques levaram os primeiros colonizadores da Austrália e chamá-los de demônios das florestas, o que levou ao nome popular de diabo da Tasmânia.

Símbolo da vida selvagem australiana, como o canguru e o urso coalha, o diabo da Tasmânia inspirou muitos trabalhos de ficção e documentários, e se tornou conhecido mundialmente devido ao personagem Taz, que vive caçando o coelho Pernalonga nos desenhos animados da Warner.

O Taz do desenho animado tem algumas característicos do animal real, como os dentes proeminentes, a cabeça grande e as pernas curtas, mas as semelhanças de comportamento são menores e se resumem ao apetite voraz, os rugidos e uma certa timidez. Ainda que a maioria das pessoas não se importe com o destino dos diabos da Tasmânia, esse tipo de pesquisa, feita pela Universidade da Austrália, pode ser vital para a sobrevivência da humanidade em longo prazo. Se os seres humanos forem ameaçados por uma nova doença contagiosa, como a que atinge os marsupiais australianos, o tipo de pesquisa genética para combatê-la seguirá os mesmos passos. Identificação da origem da mutação, mapeamento das mudanças genéticas e criação de uma vacina.

* Originalmente publicado no Diário do Vale (www.diariodovale.com.br)

Comentários

  1. Olá, querida...
    Nossa, eu vi isso no jornal. É uma pena se isso acontecer. Espero que encontrem a cura.
    Bjokas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Seu comentário é de suma importância. Ele será exibido após minha aprovação. Obrigada. Volte sempre. Thayra Azevedo

Postagens mais visitadas deste blog

Propagandas conscientes

Passeando pelos blogs da ‘vida’ me deparei com um post muito bom. É sobre algumas propagandas criadas pela WWF com objetivo de conscientizar as pessoas da importância de se preservar o planeta. São fantásticas as ideias olhe abaixo: A medida que o papel acaba, o verde da América Latina desarece. Essa é mais complexa de ser realizada. O outdoor da WWF alerta para o risco que o aquecimento global representa ao elevar o nível dos oceanos através da sombra projetada no cartaz. Esse anúncio utiliza o movimento da sombra no cartaz para demonstrar como o aquecimento global levará ao aumento do nível dos oceanos. Esse foi produzido pela divisão indiana da ONG. Mostra como os bichos têm sofrido com a indústria da moda Dá para refletir, ou não?

Para todo pé descalço há um chinelo velho

A expressão que dá título a este texto é muito usada quando falamos de relacionamentos amorosos. Pensando bem, ela é mesmo uma realidade. Todos nós temos uma “cara metade”, a “tampa da panela”, a “metade da laranja”, “a mussarela da pizza” e tantas expressões, que dá para ficar listando e inventando o dia inteiro. A razão de escrever sobre isto não é, de fato, relacionamentos amorosos, mas a de mostrar como é engraçado os diferentes gostos das pessoas. Calma, não é mesmo de namoros e afins que irei falar. O assunto aqui é defeitos e qualidades, como vou dizer.... Sabe a expressão “uns gostam dos olhos e outros da remela”? é mais para este caminho do que da “alma gêmea”. Mas porque o assunto é: “Para todo pé descalço há um chinelo velho”? Ué, porque eu vou falar de pé, também! Rs Em especial, dos meus pés. Rsrs Sabe aquele “defeitinho” que você tem, ou acha que tem, mas um outro ser é capaz de achar lindo? Não estou falando apenas de namorados, pais, irmãos, parentes e afins, me

Flor de Lis, o filme

Este post aqui é de alegrias, sei lá, algo bom. No dia 4 de Fevereiro aconteceu o lançamento de um dos filmes mais esperados do ano para alguns cristãos, o "Flor de Lis, o Filme". Legal isso, então o Flor daqui vai falar do flor de lá. Este documentário é uma conquista, porque reúne artistas ‘renomeadíssimos’ contando uma história com a temática evangélica, retratando um verdadeiro acontecimento, com uma ótima trilha sonora, elenco de primeira, é um divisor de águas na história do drama no cinema brasileiro. Muito bacana. Tem trilhas sonoras com Bruna Karla, cantora gospel e Ministério Apascentar de Nova Iguaçu também evangélico. Não vi ainda, mas quero ver. O filme produzido por Marco Antonio Ferraz, conta a história verídica da vida de Flordelis, uma missionária que morava no Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro. Mulher de fibra e coragem, que lutou bravamente para abrigar e cuidar de 37 crianças abandonadas e as criou junto de seus quatro filhos biológicos